Uma reflexão sobre os monstros que somos
Se um apocalipse zumbi realmente acontecesse, o que você faria? Arranjaria uma escopeta, uma jaqueta da S.T.A.R.S. e bancaria o herói? Dificilmente. Por mais que a ficção tenha nos mostrado os mortos-vivos de infinitas formas, o que realmente aconteceria caso os cadáveres começassem a se levantar seria a completa destruição da nossa noção de sociedade e daquilo que nos faz sermos humanos.
Essa é a grande sacada de uma boa história de zumbis. As possibilidades narrativas são imensas, principalmente quando a história mostra que os devoradores de cérebros nada mais são do que um simples agente externo e que os verdadeiros monstros são as próprias pessoas. É esse tipo de discussão que enriquece o tema e fez com que obras como os filmes de George Romero e os quadrinhos de Robert Kirkman conquistassem tanta gente.
Para nossa sorte, é exatamente esse mesmo clima imersivo que temos no terceiro capítulo de The Walking Dead. Os episódios anteriores já mostraram como o retorno dos mortos fez com que o mundo ao seu redor enlouquecesse, mas é em Long Road Ahead que vemos que nem mesmo nós estamos livres de nos tornarmos os monstros que tanto tememos.
Aprovado
Tenso e intenso
Tentei, por muito tempo, encontrar uma palavra que resumisse todos os acontecimentos do novo capítulo de The Walking Dead, mas praticamente todas elas eram interjeições de surpresa e entusiasmo que não posso reproduzir aqui. Tudo isso porque, a cada instante, você é colocado diante de uma situação em que não há certo ou errado ou bom ou mau. O mundo como conhecemos já se foi e, com ele, essa dualidade.
O que isso significa dentro da trama? A todo momento, Lee precisa tomar uma decisão que vai definir todo o futuro de seu grupo, incluindo o da pequena Clementine. Se os episódios anteriores já mostravam que suas respostas iam mudar a forma com que os demais personagens se relacionariam com o protagonista, em Long Road Ahead é o destino deles — e o seu — que está em jogo.
É por conta disso que o clima de tensão está presente a todo momento. Não apenas pelo fato de os zumbis estarem à solta, mas porque você nunca sabe como seus companheiros irão reagir a toda a pressão desse novo mundo, o que faz com que as coisas virem de cabeça para baixo com uma velocidade incrível.
Ainda que a história seja relativamente curta, ela é muito bem contada, de modo que você realmente sente-se preso àquele universo e tenta pensar e responder como Lee em praticamente todos os momentos. Se você já se surpreendeu com as histórias em quadrinhos ou com a série de The Walking Dead, saiba que o novo capítulo não deixa nada a desejar na hora de te deixar sem fôlego.
O destino em suas mãos
Já antecipei esse ponto no tópico anterior, mas vale a pena retomá-lo. Ao contrário do que acontecia nos capítulos anteriores, Long Road Ahead realmente passa impressão de que o destino dos personagens depende de você e de suas escolhas. Não se tratam mais de questões como simpatia entre a família de Kenny e Lee, mas se você deve ou não decretar a morte de alguém. Depois de toda a bagunça no final do episódio anterior, é de se imaginar que a união de seu grupo está abalada e que a permanência — ou a sobrevivência — daqueles que restaram vai depender somente daquilo que você responder ao longo dos diversos diálogos existentes.
Isso interfere diretamente tanto na narrativa — já que você tem um leque maior de “realidades alternativas” disponíveis para seguir na história — quanto na própria experiência. A responsabilidade dada ao jogador é imensa e serve como uma forma de brincar com qual seria a reação de quem segura o controle caso aquela situação fosse real.
Reprovado
O mesmo jogo, os mesmos erros
The Walking Dead é um excelente jogo, mas, como tudo nessa vida, não consegue agradar a todos. E é exatamente aqui que temos o principal ponto negativo de Long Road Ahead: se você, até agora, não se empolgou com a trama ou com a mecânica, dificilmente vai mudar de ideia.
O clima mais intenso deste terceiro capítulo pode até ser muito interessante, mas ele não consegue fugir da fórmula usada nos episódios anteriores — algo que pode ser uma enorme barreira, principalmente com a curta duração e o pouco tempo para definir suas respostas.
Porém, mais do que isso, ainda temos os mesmos problemas se repetindo. A quebra de ritmo em determinados momentos volta a acontecer, assim como algumas instabilidades na própria parte técnica, dando origens a algumas travadas que incomodam em diversos momentos. Por mais que não seja nada realmente preocupante, é triste ver que estamos no terceiro episódio e os erros cometidos ainda são os mesmos.
Novos tropeços
No entanto, não são apenas os velhos erros que atormentam Long Road Ahead. O jogo apresenta vários bugs menores que aparecem esporadicamente, mas que atrapalham e fazem você olhar com aquela cara de “Sério mesmo?”. Exemplo disso é a total falta de sincronia nos diálogos — em conjunto com um efeito bizarro no som — que aconteceu em alguns momentos de nossa análise ou a câmera enlouquecida que decidiu abandonar o ângulo fixo para exibir apenas o céu e alguns riscos aleatórios — algo que só foi solucionado quando reiniciamos o game.
Vale a pena?
Se A New Day e Starved for Help já se saíram muito bem, The Walking Dead: Long Road Ahead vai além e consegue dar uma nova profundidade ao enredo, mostrando que uma situação tão extrema quanto um apocalipse zumbi é capaz de acabar com a nossa própria humanidade. Mais do que isso, o jogo testa sua integridade a cada momento ao colocá-lo diante de um mundo cada vez mais corrompido.
Este novo capítulo é, em sua essência, aquilo que faz uma história de zumbis ser boa. Ele prende o jogador desde o início e o mantém tenso na maior parte do tempo, fazendo com que questionemos sobre nós mesmo. Isso é algo que nem mesmo os problemas conseguem ofuscar.
É aí que temos o grande mérito deste novo episódio de The Walking Dead, pois ele consegue mostrar que um bom jogo de zumbi não precisa ter cabeças explodindo, corredores escuros e coisas pulando na tela a cada momento. Long Road Ahead prova que o verdadeiro terror está naquilo que pensamos e, pior, naquilo que podemos nos tornar.