quinta-feira, 12 de julho de 2012
Spec Ops: The Line {Analize}
Talvez essas duas orações sejam excludentes, mas essa é a sensação com a que fiquei ao término de The Line. Não é como se esses dois aspectos batessem de encontro e suas partes em oposição fossem se anulando, até sobrar algo pouco chamativo no meio. Aquilo que há de incrível no jogo é realmente tão impressionante que faz com que seja possível não apenas relevar frequentemente o que há de medíocre em Spec Ops: The Line, como também permite sair dele afirmando que a experiência é das mais significativas a ocorrer em videogames nos últimos anos. Toques de direção e narrativa implementados à jogabilidade tornam toda a aventura bastante diferente dos outros jogos que você encontra em prateleiras, e isso é mais do que louvável. No entanto, é impossível não lembrar de tempos em tempos o quão sem graça é dar ordens e atirar em inimigos na maior parte do tempo. Por isso, Spec Ops: The Line é incrível, mas, infelizmente, não é o melhor dos jogos.
O horror! O horror!
O cenário é Dubai. A cidade, assolada por fortes tempestades de areia, está cortada do resto do mundo. O capitão Walker (interpretado por Nolan North, o mesmo ator de Drake da série Uncharted), junto a Adams e Lugo, que fazem parte de seu esquadrão, chegam à cidade com objetivo de resgatar civis. No entanto, não demora mais do que alguns minutos para que você esteja atirando em cidadãos rebeldes de Dubai e soldados americanos, que por algum motivo desistiram de seguir ordens dos Estados Unidos.
A premissa pode não soar como sendo a mais interessante do mundo, mas, como em toda boa história, sua qualidade está no “como” e não no “o quê”. Inspirado no livro “O Coração das Trevas” de Joseph Conrad, os eventos pelos quais Walker e seu grupo passam – tudo em um só dia – mostram a quebra progressiva de cada um deles ante os horrores da guerra. Não só aquilo que eles presenciam, mas aquilo que precisam fazer – voluntaria e involuntariamente – destrói progressivamente as pessoas que eles eram no início de tudo. E, além das dúvidas tidas pelos protagonistas relacionadas à trama de The Line, como por que soldados dos Estados Unidos trairiam sua pátria e onde está Konrad – coronel altamente condecorado que falhou em evacuar a cidade –, há também um questionamento sincero e contundente sobre o valor de intervenção de forças armadas em outros países e o que exatamente ocorre nisso.
Dentre tudo isso, aquilo que mais marca é a queda de Walker e seu esquadrão. No início, quando tudo parece ser um dia como outro qualquer, há uma troca de diálogo quase boba entre eles. São as conversas convencionais que você espera do esteriótipo de militares, comentando sobre como querem ir logo para casa e fazendo alguma piada sem graça com um dos companheiros. Esse início quase o faz não gostar desses personagens, de tão comuns e rasos que eles aparentam ser. Mas tudo isso apenas serve como um contraponto ao que está para ocorrer.
Não é algo óbvio. Não é como se, do ponto A ao B, a relação deles mudasse e uma nova série de falas fosse ativada. É algo que aparece no decorrer dos eventos, naturalmente, e, quando você percebe o que está acontecendo já está plenamente convencido. Questionando as ordens de Walker e abalados por aquilo que aconteceu, os três personagens passam a desabar sob a pressão que os assola, e a odiar aqueles que os opõem e uns aos outros.
Isso é passado ao jogador não só através de cutscenes, mas também no próprio diálogo contextual às suas ações. Por exemplo, no início, ao derrotar alguém, o jargão militar de “alvo abatido” é utilizado por Walker. Em um ponto mais avançado, quando os ideais dele já estão abalados, a frase muda para algo como “o maldito está morto” e similares, com uso frequente de palavrões. A mesma coisa ocorre ao dar uma ordem a Lugo ou Adams. De “desculpe senhor, não consegui acertar o alvo” as respostas deles passam para “se você queria matar o alvo deveria ter atirado você mesmo.” As próprias execuções corpo a corpo de Walker mudam, tornando-se mais violentas com o progredir da aventura.
É um toque simples, mas extremamente efetivo, que faz com que você sinta nas mecânicas o efeito da narrativa, tornando-a muito mais poderosa. Isso, por sua vez, é reforçado pela excelente direção de Spec Ops: The Line. Existem momentos em que você é conduzido por um cenário de maneira específica, acompanhado de músicas que casam com a ação, que aumentam a qualidade da ação consideravelmente. De repente você está muito mais animado com o que está acontecendo, sentindo conscientemente que está fazendo parte de algo, simplesmente, muito legal, e tudo que deseja é que aquilo não acabe.
É digno notar que as músicas tocadas se encaixam muito bem com as cenas por serem todas diegéticas (as músicas saem de rádios e caixas de som encontradas pelo cenário do jogo, e somem de acordo com a distância tomada desses aparelhos). Há uma razão na narrativa para isso; somos acompanhados o tempo todo pela voz de um homem no rádio, que apoia as ações dos soldados que não seguem as ordens do governo dos EUA. Esse personagem, mesmo que um antagonista, é uma das presenças mais interessantes de The Line, em parte por narrar suas ações sob um outro ponto de vista e em parte graças ao bom trabalho de atuação feito por Jake Busey. E, sempre sabendo onde estamos, é ele quem toca essas músicas que nos acompanham.
Aquilo que intercala tudo que há de bom
Apesar de todos esses elementos, em sua base Spec Ops: The Line é um jogo de tiro em terceira pessoa com sistema de cobertura, sem grandes surpresas. Não há nada inerentemente errado nele; a mecânica de cobertura funciona sem problemas, e o manejo das armas ocorre tranquilamente. O único porém é que, se esses aspectos ocorrem sem tropeços, eles também não possuem nada de grandioso. Atirar não é prazeroso, nunca funcionando como um fim em si. Nenhuma arma é terrível, mas falta a elas impacto. A tática dos inimigos é quase sempre a mesma, em que os com escopetas tentarão cercá-lo enquanto os que possuem metralhadoras atirarão de longe, então é fácil aprender e se prevenir. Não é ruim, mas não é bom também. De verdade mesmo, o único aspecto técnico que me incomodou fortemente algumas vezes foram os checkpoints, que são mais infrequentes do que parece que deveriam ser.
Acontece que, de tempos em tempos, um dos momentos mencionados, de direção perfeita, ocorre e, de repente, seu ânimo está maior do que nunca. Ainda são as mesmas mecânicas de tiro sem nada de espetacular, mas, com os outros elementos que compõem o jogo bem dispostos, tudo passa a funcionar bem. Não demora para que esse segmento termine e você volte à mediocridade de antes, mas também não é preciso esperar um tempo absurdo para que um desses momentos apareça novamente.
Isso torna Spec Ops: The Line um tanto esquisito. Existem coisas verdadeiramente excelentes, porém ele não é inteiramente bom. Algumas de suas partes são chatas, mas quando você alcança uma das boas elas são tão boas que é difícil de acreditar. Vale muito a pena vê-las por conta própria, mas para isso você terá que passar por algumas que são cansativas.
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